sexta-feira, 21 de fevereiro de 2003

O tempo está passando de novo como naquele filme do dia da marmota, que tem título em português como "o feitiço do tempo". O título em português é muito mais explicativo, mas menos legal... É a história de um homem que acorda sempre no mesmo dia, tendo de recomeçar sempre as mesmas coisas.

É meio que a impressão que eu tenho. Meus dias começam todos iguais. No hospital eu já não tenho surpresas para encontrar... Talvez seja um dos sinais que eu já não tenha mais tanto a aprender por lá, preciso de novos desafios.

Quando iniciei a Faculdade tudo era novidade. Agora nada mais é novidade. Ah, cada paciente tem um caso diferente, uma história de vida diferente, níveis de sofrimento diferentes e tal... Mas como um médico "moderno" não há tempo de me interessar nesse nível nos casos dos meus pacientes.

Trato de doenças, não de doentes.

Acho que está aí a raiz do problema. As doenças são sempre iguais, os doentes é que são diferentes. Isso talvez explique porque um tratamento dá certo com uns e não dá certo com outros.

Não posso dizer que descobri isso agora. Na Faculdade sempre batiam nesta tecla: para ter uma visão holística (total) do paciente, não ver só uma parte. Mas só agora percebo a real importância destas palavras.

Mas na residência não há como ser diferente. Não há tempo. Não há estrutura. Centenas de pacientes são atendidos por dia, só na ortopedia. Não é possível dedicação "holística" para todos eles.

Um dia isso deve ser mais fácil. No futuro, quando eu tiver apenas alguns pacientes para atender (não centenas), talvez eu encontre mais satisfação no que eu faço.

Ou será que tenho que tentar mudar isso agora? (Só não sei como...)

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