domingo, 2 de junho de 2002

Em 1997, quando eu estava no terceiro ano da faculdade e comecava a ter contato com pacientes, tinha aulas de psicologia médica. As aulas eram feitas de discussão sobre diversos temas que envolviam principalmente a relação médico-paciente.

Uma dessas aulas, a que mais marcou, era sobre o paciente temido. Cada um do grupo fez uma dissertação dizendo qual seria o tipo de paciente que mais temia que um dia viesse encontrar na vida profissional. Após pensar, cheguei a minha conclusão, que não mudou em todos esses anos que se seguiram: meu paciente temido seria aquele que mais se parecesse comigo mesmo, e que eu não conseguisse ajudar...

Estou dizendo isso porque hoje me apareceu um caso assim aqui no plantão. Rapaz jovem, vinte e poucos anos, vítima de acidente há pouco mais de um ano, teve fratura e hoje está com uma infecção complicada... Não pude ajudá-lo como gostaria, por limitações deste serviço. Fiz o máximo possível... Enquanto o ajudava, sofria, pois sentia que por mais que fizesse, não seria o suficiente...

Durante o internato conheci vários pacientes assim: na psiquiatria, nas moléstias infecciosas, clínica médica, dermatologia, pacientes jovens com tumores graves sendo submetidos a cirurgias mutilantes, tentando buscar a cura. E durante a residência, muitos outros (a maioria são jovens vítimas de acidentes de trânsito).

Gostaria de poder trabalhar num sistema de saúde público que funcionasse. Isso diminuiria um pouco a minha sensação de incapacidade, pois, mesmo sabendo que não posso ajudar a todos com o HC, saberia que em outros lugares, outros serviços poderiam estar ajudando. Atualmente não tenho esta certeza. Cada encaminhamento para outro serviço me deixa a dúvida: será que realmente será atendido e tratado? Gosto de acreditar que sim. Não acreditar seria muito doloroso.

Tomara que o próximo governo seja melhor neste aspecto.

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